CAPÍTULO IV: SAÚDE MENTAL: DESAFIO DE POPULARIZAR O CUIDADO COM A MENTE
DANIELLE BARBOZA ARAÚJO
CLEYTON CÉZAR SOUTO SILVA
Comparado a outras vertentes da medicina em que a discussão é ampla e bem difundida, a saúde mental ainda está em volta de diversos mistérios e preconceitos. Com a visão dos manicômios do século passado, o grande público tem “medo” de discutir sobre saúde mental, dificultando o acesso daqueles em sofrimento mental à rede, em decorrência dos estereótipos a eles relacionados, como: “louco”, “fresco” ou “coisa de rico”.
No trabalho como médico da ESF, estamos em contato com os mais diversos tipos de transtornos mentais, desde de esquizofrenia passando por transtornos ansiosos e depressivos no mais diversos níveis. Por isso, a identificação no território dessa população é essencial para se desenvolver estratégias de trabalho. Foi construído juntamente com a equipe um instrumento para a identificação desses pacientes na área, com o objetivo de acompanhar esses pacientes e seu tratamento (Anexo 02).
Outro grupo de difícil acompanhamento são os usuários de álcool e outras drogas, pois é público que tem vários fatores envolvidos: sociais, educacionais, psicológicos e psiquiátricos que reforçam o consumo, distanciando-os dos serviços de saúde. O meu território é uma área de vulnerabilidade social, associado a pobreza, violência e tráfico de drogas, tornando ainda mais relevante a identificação dos dependentes químicos e a disponibilização de atendimento.
Após a disponibilização do instrumento aos ACS para recolher os dados, um caso me chamou atenção: Uma adolescente, 15 anos, dependente química de álcool e maconha. Ela tinha 04 irmãos, sendo ela a mais velha, a mãe trabalhava fora o dia inteiro e o pai havia os abandonado. A mãe estava em busca de atendimento para recuperação da filha.
O CAPSi do meu município fica no outro extremo da cidade, de difícil acesso pelo serviço de transporte público, tornando-se inviável a família levar a paciente para fazer acompanhamento por lá. O CAPSad é mais bem localizado na cidade, ficando na região central, porém não aceita menores de idade. Outro ponto é a falta de estrutura do lugar, o acompanhamento está fragmentado, os pacientes ali acompanhados em grupo e atendimento individual não estão comprometidos com o tratamento e mantém o uso corriqueiro de ilícitos.
Nenhum deles tem acompanhamento 24hs, apenas em horário comercial. São muito restritos os serviços de internação para a fase de desintoxicação no município, e muitos desses usuários são moradores de rua que fazem acompanhamento durante o dia e volta às ruas a noites por falta de casas de apoio.
O acesso a equipe multidisciplinar do NASF para esse tópico é inexiste em minha unidade de saúde, pois os mesmos realizam apenas atendimentos domiciliares pontuais que são nem de perto suficiente para esse tipo de paciente. Porém, a minha unidade consta com 03 psicólogos, porém pela falta de apoio em outros aspectos do atendimento, este torna-se fragmentado e ineficiente.
Para melhorar o acompanhamento de saúde mental devemos fortalecer esta rede de atenção com o aprimoramento e modernização dos profissionais que atual com esse público, além de ações a serem discutidas com a comunidade quanto ao papel da família no acompanhamento desse paciente, sobre a importância de se procurar atendimento médico e psicológico o mais precoce possível e destruir os estereótipos que “só rico tem depressão”, “depressão é frescura”, “louco não serve para nada”, pois só quando a saúde mental for para todos, sem distensão de gênero ou classe social poderemos ter uma sociedade mais saudável psicologicamente.
Ponto(s)