18 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

 TITULO: Ações educativas para reduzir o uso indiscriminado de psicofármacos por usuários da comunidade São Bernardo, Luís Gomes/RN.

ESPECIALIZANDO: Dunia Madrigal Gonzalez

FACILITADOR: Isaac Alencar Pinto.

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde, atualmente mais de 440 milhões de pessoas em todo o planeta sofrem de transtornos mentais ou de problemas sociais relacionados ao abuso de drogas ou de álcool. A cada dia que se passa, as doenças mentais estão atingindo uma grande quantidade de pessoas no mundo inteiro e, consequentemente um maior número de pessoas consumidoras de medicamentos controlados, em que resultam grandes riscos como a dependência química e também os efeitos colaterais (VILTRES, 2017).

O Município de Luís Gomes/RN, onde trabalho, apresenta um grande número de pacientes com transtornos mentais, tanto em zona rural como zona urbana. O Município não possui Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), pois apresenta uma população de aproximadamente 10.000 habitante, ele só contém o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do tipo 2 que é composto por cinco profissionais: um Educador Físico, um Assistente Social, um Fisioterapeuta, um Fonoaudiólogo, um Nutricionista e um psicólogo, este último desenvolve um trabalho com o grupo de saúde mental no município.

Dessa forma, os novos casos são encaminhados ao Psiquiatra do CAPS do município de Pau dos Ferro/RN, que é um Centro de Atenção Psicossocial Regional, para receberem o atendimento adequado, após a consulta, o paciente retorna para área com o tratamento indicado pelo psiquiatra. Mas, se o paciente já tem um tratamento de uso contínuo de medicações e tem uma recaída, nós (médicos) reajustamos as doses da medicação, caso o paciente não melhore, novamente encaminhamos para o psiquiatra.

Quando os casos precisam de acompanhamento e avaliação assistencial, o CAPS envia uma contrareferência para a Secretaria de Saúde do município de Luís Gomes/RN e a Secretaria de Saúde é encarregada de informar as equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) sobre a contrareferência.

Desde o início de nosso trabalho na UBS, Vila São Bernardo, identificamos o alto número de usuários de psicotrópicos, na realidade temos uma população altamente consumidora de sustâncias psicotrópicas e dependentes químicas que fazem uso de várias drogas, alguns com mais de 20 anos de uso. Temos a cifra de 365 pessoas que abarcam todas as faixas etárias com diagnósticos desde os Transtorno Depressivos, Transtorno de Ansiedade de Fobia Social, Transtorno Bipolar, epilepsia, retardo mental, entre outros, que atualmente fazem uso continuo de psicotrópicos e há tendência de aumentar cada dia.

O uso indiscriminado de benzodiazepínicos e antidepressivos na Atenção Básica é um problema de saúde pública de grande abrangência que contempla tantos profissionais da saúde quanto os usuários e seus familiares, além disso, o uso prolongado de psicotrópicos tem como consequência dependência dos mesmos, o que provoca transtornos no comportamento.

Na Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila São Bernardo, o registro dos usuários em uso crônico de medicamentos de saúde mental já é realizado pela equipe de atenção básica em um livro de registro, no qual consta os dados a continuação, mostrados no instrumento que já foi aperfeiçoado pela equipe:

  • Número;
  • Nome;
  • Idade;
  • SUS;
  • ACS;
  • Diagnóstico;
  • Medicamentos de uso contínuo;
  • Encaminhamentos: NASF; CAPS;
  • Agendamento: Programado; Urgência; e Visita Domiciliar;
  • Observações.

 

Após o diagnóstico situacional realizado no território da unidade com a participação de todos os membros da equipe de saúde da família e em conjunto com NASF, foi identificado como problema principal, o alto número de pacientes em uso de psicotrópicos na comunidade Vila São Bernardo no município de Luís Gomes.

O objetivo principal desta reunião, realizada no dia 12 de julho no local de reuniões da UBS, foi melhorar os conhecimentos da população para adoção de práticas mais saudáveis que melhorem a qualidade de vida, diminuindo assim o uso indiscriminado de Psicofármacos. Sendo possível a realização de ações de promoção, prevenção e tratamento evitando novos casos e reduzindo complicações nos casos existentes, como a dependência.

 Os pacientes com histórico de transtornos ansiosos depressivos e/ou doenças psicóticas constituem uma das principais queixas e motivo de consulta dos pacientes na UBS. Foi referido pela enfermeira da equipe, que o número de pessoas que procuram a UBS para buscar medicamentos psicotrópicos é relevante, totalizando 365 pessoas em uso contínuo de psicofármacos. É comum a simples renovação de receitas ou encaminhamento ao Psiquiatra e na maioria das vezes, não há resposta da contrarreferência com o diagnóstico da doença mental que justifique o tratamento prescrito.

Com isso, os agentes de saúde identificaram as principais causas que levam os usuários ao uso indiscriminado de psicotrópicos, como por exemplo em pessoas portadoras de transtornos de ansiedade, sendo a maioria mulheres, mães solteiras com baixa renda familiar, o desemprego, a falta de laser, as famílias disfuncionais e desestruturadas, a solidão e a incompreensão dos familiares no caso de pacientes idosos, são as causas mais comuns do abuso de drogas.

Foi avaliada juntamente com a psicóloga do NASF a necessidade de implementar uma capacitação para a equipe, com o objetivo de trabalhar as estratégias em conjunto, a fim de reduzir o problema. Propondo palestras educativas, onde a intenção é a participação do maior número de pessoas com transtornos mentais; criação de grupos de apoio a saúde mental; uma melhora na qualidade de vida dos pacientes, substituindo o atendimento individual com prescrição de medicamentos por ações de terapias ocupacionais (cursos de maquiagem, cabeleireiro, manicure, trabalhos artesanais, desenhos e pinturas, etc.) e atividades recreativas de lazer (esportes, atividades aeróbicas, etc.).

Outro método sugerido foi a divulgação através da rádio comunitária e de panfletos sobre reações adversas e as principais consequências, como a dependência, o prejuízo da memória e distúrbios neurológicos por uso indiscriminado dos psicotrópicos.

Os resultados que esperamos com o desenvolvimento dessa intervenção é alcançar um aumento dos conhecimentos da população sobre o uso abusivo dos psicotrópicos e os efeitos deles na saúde. As formas do manejo do estresse e mudanças do estilo de vida são ações importantes para que as pessoas modifiquem seus comportamentos adquirindo uma nova condição de prática de hábitos saudáveis.

Para que esse atendimento seja efetivado a equipe necessita ser capacitada, para lidar com a problemática apresentada cabe aos gestores o investimento de recursos financeiros para a elaboração de programas de assistências aos portadores de doenças mentais e seus familiares. Pois, é um problema em nossas instituições o aumento considerável no consumo de psicofármacos o que leva a outras doenças e gastos ao SUS.

        ITINERARIO TERAPEUTICO DE UM USUARIO EM SAUDE MENTAL:

     M.F.S.B, 56 anos de idade, sexo feminino, divorciada, moradora da Vila São Bernardo, agricultora, mãe de dois filhos, apresenta episódio depressivo moderado, com tentativa suicida, tudo isso vem acontecendo depois do falecimento de um dos seus filhos em um acidente de transito. A mesma foi avaliada por um psiquiatra e medicada sem melhoras no quadro clinico. Programou-se uma visita com a equipe de saúde e percebemos a paciente com piora dos sintomas, com perca de algumas funções básicas do dia a dia, insônia há mais de três semanas, e vontade de não viver mais.

Nós, membros da equipe, nos comunicamos imediatamente com a secretaria de saúde e a psicóloga do NASF, para remissão urgente do caso com especialista no dia seguinte. Recebemos contrarreferencia que foi necessária a internação da paciente com mudança na medicação.

Neste momento a senhora forma parte do grupo de apoio mental dirigido pela psicóloga do NASF, com acompanhamento semanal pela equipe de saúde, e quinzenal por psiquiatra.

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