17 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL OFERTADA PELA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DE FAMÍLIA III POÇO COMPRIDO

 

ESPECIALIZANDA: RENATA ALLANA DA COSTA PEREIRA

ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS

COLABORADORES: ANTONIELLY MATEUS NUNES, DOMINGOS AVELINO DA SILVA, EDMILSON PINHEIRO DE LIMA, MARISTELA DE ARRUDA DUARTE, PEDRO VIANA DA SILVA E ZAIRA CRISTINA DE ARAÚJO PAULO.

 

A microintervenção foi iniciada através da convocação de uma reunião em equipe para discussão sobre a linha de cuidado em saúde mental ofertada aos pacientes do território pela Estratégia de Saúde da Família III (ESF III) Poço Comprido, do município de Boa Saúde, Rio Grande do Norte (RN). Foi utilizado como base para avaliação da qualidade desse serviço em saúde mental os requisitos mínimos exigidos pelo Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB).

A avaliação externa da nossa unidade pelo PMAQ ocorreu no mês de setembro de 2017. Em razão disso, após discussão em reunião, chegou-se à conclusão de que a equipe cumpre por completo os requisitos exigidos nessa avaliação.

A unidade possui um livro de registro dos pacientes que fazem uso de psicotrópicos intitulado “Controle de Medicação – Psicotrópicos” (Figura 1), que foi elaborado em março de 2014, e desde o ano passado, está sendo atualizado a cada consulta que o usuário desse tipo de medicamento realiza. Neste livro consta informações gerais do paciente (data, número de prontuário, nome, idade e endereço); a medicação que utiliza e se esta é de uso diário ou não; observações gerais (no qual se cita o diagnóstico e se o paciente recebe algum tipo de suporte psiquiátrico da Rede de Atenção em Saúde – RAS); e qual o Agente Comunitário de Saúde (ACS) responsável pela área daquele usuário.

Figura 1. Livro “Controle de Medicação – Psicotrópicos” ilustrando o controle que a equipe faz sobre os pacientes usuários de psicotrópicos da ESF III Poço Comprido.

 

Além disso, existe uma lista de pacientes da equipe (Figura 2), divididos por área de abrangência dos ACS, que passam por algum sofrimento psíquico ou que são usuários de drogas (lícitas ou não), bem como a classe farmacológica do psicotrópico que o paciente faz uso (se benzodiazepínico, anti-psicótico, estabilizador do humor ou antidepressivo). 

 

Figura 2. Lista de pacientes usuários de saúde mental por território de ACS da ESF III Poço Comprido.

 

Os pacientes com diagnóstico de saúde mental são acompanhados pela ESF III seguindo uma linha de cuidado longitudinal (ou seja, continuado). Os usuários, uma vez diagnosticados, realizam consultas periódicas a cada 60 dias para acompanhamento, avaliação dos sintomas, necessidade de ajuste de dose de medicações, e, caso necessário, referenciamento para a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Caso seja identificado um paciente em sofrimento psíquico, na área, o qual ainda não possui acompanhamento pela equipe, seja através do ACS ou seja através da demanda espontânea, este é prontamente acolhido na unidade e agendado consulta médica dentro de 48 horas.

Durante a última reunião locorregional do programa Mais Médicos, realizado em Santa Cruz/RN, no dia 04 de julho de 2018, foi exibido um gráfico da RAPS da V região de saúde do estado do Rio Grande do Norte.

Na ocasião, foi relatado a existência de três Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) I nessa regional, sendo dois localizados em municípios vizinhos a Boa Saúde (Tangará e São José do Campestre). Tentei contato com esses centros, porém não obtive sucesso. Em um deles, não consegui ter acesso ao número de telefone (apesar de pesquisa em internet), e em outro não houve resposta às ligações feitas. Consegui contato com o CAPS I de São Paulo do Potengi, tendo conversado com Luana (psicóloga do centro) que não soube me responder sobre a situação do funcionamento dos outros CAPS I da V região, visto que foram recentemente inaugurados, porém afirmou que o CAPS de seu município possui pactuação com o município de Boa Saúde.

Logo, além do suporte desse CAPS, Boa Saúde dispõe de um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), localizado na própria cidade, constituído por um fisioterapeuta, uma fonoaudióloga, uma assistente social e um médico psiquiatra. Dado a dificuldade de transporte de pacientes para atendimento em outros municípios, o NASF desempenha uma função fundamental no suporte à atenção básica no manejo dos pacientes psiquiátricos, seja através de visitas domiciliares com planos terapêuticos singulares ou através de ações como grupos de caminhada ou oficinas de recreação.

Na minha realidade de trabalho, enquanto médica de posto de saúde da família, acompanho vários casos de pacientes em sofrimento psíquico ou em situação de abuso de medicações psicotrópicas. Escolhi para relatar nessa microintervenção o acompanhamento que a equipe realiza com o paciente X.

X, 40 anos, é acompanhado na unidade por transtorno bipolar + obesidade grau III. Era acompanhado por psiquiatra particular em cidade vizinha ao município de Boa Saúde (Santo Antônio/RN), porém em razão de dificuldades financeiras familiares, estava fazendo seu acompanhamento nos últimos meses apenas na Unidade Básica de Saúde (UBS). Faz uso de várias medicações psicotrópicas, sendo elas: carbolitío 300 mg 01 – 00 – 01 comprimidos, clorpromazina 100 mg 00 – 00 – 02 comprimidos, quetiapina 25 mg 00 – 00 – 01 comprimido, fluoxetina 20 mg 01 – 00 – 00 comprimido e bromazepam 06 mg 00 – 00 – 01 comprimido. 

SR. X compareceu à unidade em 26 de junho de 2018 para renovação de receitas e avaliação bimensal realizada em consulta médica. Na ocasião, apresentava alterações comportamentais descritas como linguagem inapropriada e agressividade, bem como privação de sono. A família do paciente, por conta própria, tentou aumentar a dose do benzodiazepínico visando tranquilizar o paciente, sem melhora. Devido a esse comportamento alterado, o paciente é visto com preconceito por alguns membros de sua família e da comunidade em que vive.

O paciente foi acolhido, avaliado na unidade e encaminhado para acompanhamento multidisciplinar pela equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do município, tanto para avaliação por psiquiatra (para ajuste de medicações visto que se trata de um paciente complexo em uso de polifárrmacos), quanto para participar das atividades recreativas e de ressocialização realizada pelos demais profissionais do núcleo buscando a reintegração do paciente à sua família e comunidade.

Por estar em descompensação aguda de sua doença psiquiátrica e fazer uso de várias medicações (muitas das quais apresentam interação medicamentosa), encaminhei o paciente para o CAPS I de São Paulo de Potengi, uma vez que o paciente possui perfil para acompanhamento longitudinal e multiprofissional de sua doença de base nessa instituição. Entretanto, até o final do mês de julho de 2018, o encaminhamento ainda não havia sido realizado por falta de transporte para o paciente e acompanhante.

A saúde mental é uma das grandes demandas nos serviços públicos de saúde na atualidade. O sofrimento psíquico sobre a ótica das mais diversas doenças mentais, o abuso de substância psicotrópicos e uso de drogas é uma realidade do território de atuação da equipe. Concluí com essa microintervenção a importância de se conhecer à RAPS do território para, dessa forma, fornecer um atendimento multiprofissional adequado.

 

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